terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Diário 2

20/02
Saimos de Jodaipur e pegamos a estrada, quase o dia todo de viagem, para Udaipur. Pur é sufixo de cidade na tradição hindu. A rodovia é algo que deve ter similar no interior brasileiro. Muitos buracos e ultrapassagens que chegam a revela o túnel luminoso rumo ao além. As mulheres dão gritos frequentes quando estamos indo de frente para um caminhão. A vida passa rápida diante dos olhos, mas ainda não foi desta vez. No ônibus a beleza cafona de Bollywood com o filme histórico sobre Akbar, o grande. O épico histórico submerge diante da narrativa romântica. Amor é amor e sua linguagem seduz mais do que a expansão do Império Mughal.
Campos vastos e horizontais dos dois lados. Neles imagino tribos mughal (mongóis) a cavalo conquistando o vasto Rajastão. Estamos a poucos quilômetros do deserto de Tar e da fronteira do Paquistão. Imagino como deve ter estado esta fronteira ao longo das 3 guerras entre Índia e Paquistão. O templo Jainista é algo sem similar. Marmóreo, puro e branco: cada coluna distinta da anterior e imagem da busca individual da alma. Jainismo e Budismo, contemporâneos do século VI aC são, igualmente , próximos na ideia de não-violência (ahinsa) e no radical vegetarianismo que decorre dela. Um sacerdote jainista faz oração conosco e o grupo se integra numa meditação bonita.
Chegamos a Jodaipur à noite. Hotel impactante no luxo, espaço: Oberoi Udaivillas. Quartos espaçosos e muitos funcionários. Aliás, a mão de obra barata multiplica os serviços sem multiplicar a eficiência. Como no Brasil, muita boa vontade e pouca ação efetiva. A simpatia é eterna, o resultado esporádico.
O ponto alto do dia seguinte é o jantar. Sáris são distribuídos nos quartos acompanhados de uma mulher “manual de instruções”. Dão-me uma roupa de marajá, com uma calça que veste do tamanho 12 ao 60. O turbante entra apertado. Sapatos são impossíveis no meu tamanho e acabo indo de tênis mesmo. Barco romântico e um inesperado coquetel num escaler ou mini-galeão. Ambiente mágico e uma certa histeria no ar: a festa a fantasia começa a fundir o papel em cada um. Somos indianos, de uma Índia mítica, luxuosa e longe da nossa realidade. Como toda fantasia nos torna felizes em parte pelo papel assumido ali e, em parte, pelo papel que deixamos para trás. Fantasiar-se esconde e revela: o exotismo está na veia do nosso orientalismo bissexto. O jantar ocorre no Palácio do Lago, em torno da ideia atemporal de Índia e seguindo o calendário gregoriano do aniversário da Patrícia. A noite é mágica, para dizer o mínimo. Tocadores e dançarinas completam nosso cenário. A lua cheia encanta pela luz opalina que derrama sobre o lago. De amarelo-âmbar no seu nascer ao prateado intenso, ela acompanha o jantar. Comida indiana: quarto ou cinco quilos de pimenta temperados com pequenas porções de frango, tentando não estragar o gosto da pimenta com o excesso de frango.
No meio da alegria intensa sento-me num chatri (gazebo indiano) e olho o lago. Sem que eu consiga evitar a lembrança do meu pai aflora forte. Ele detestava viajar, mas gostava das minhas cartas descrevendo as viagens. CHoro sozinho. Nunca contarei a ele deste lago, nunca mais. Isto é a morte, ali emoldurada pela beleza da alegria da vida. Nunca mais. A engrenagem da eternidade moveu-se e ele se foi. Choro por ele e por mim. Patrícia senta-se ao meu lado e me consola. Não queria chorar numa festa, mas foi impossível controlar desta vez. A lembrança volta muito sem controle e penso que, s eminha dor é grande, maior deve ser da minha mãe. A gripe aumenta e ajuda a explicar meus olhos vermelhos. Voltamos ao hotel e Patrícia recebe o brinco que o grupo oferece de aniversário e que a Flavia escolheu. A jóia encerra uma noite perfeita.
Pela manhã grupo segue para Jaipur, a capital cor-de-rosa do Rajastão. Eu e Aluana entramos no overbooking e fazemos outro voo. Volto a Jodaipur, o aerorporto lilás que achei que não reveria tão cedo. Supresa: no aeroporto nosso amigo , His Highness, o marajá de Udaipur. Agora embarcar no voo da celebérirma companhia Kingfisher rumo a Jaipur.

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