domingo, 27 de fevereiro de 2011

Do nosso professor para o mundo...diário 5 by Leandro Karnal

27/02

Varanasi: a mais antiga cidade religosa em atividade no planeta se abre diante de nós. Era a parte mais enigmática, mais ansiada e menos glamourosa da viagem. A urbe sagrada apresenta-se, desde o início, barulhenta e feia. Trânsito caótico: só o Cairo pode ser mais dantesco. Fedor onipresente: vacas e pessoas defecando nos recém-chegados, sem cerimônia. Todos estavam preparados, mas a visao daquilo surpreendeu.

Comparando com os anteriores, o hotel Gateway é inferior. Canequinha de plástico no banheiro. Carpete com ácaros budistas no corredor. O lençol tem bolinhas e promove esfoliação suave. Assumimos resignação de casta.

Na noite da chegada vamos ver a cerimônia do fogo. Andamos de riquixá pelas ruas de Varanasi. Não é possível descrever a sensação. Buzinas, sempre, muitas. Comércio com mistura de 25 de março e favela. Vacas e pedintes. Carros, carroças, bicicletas, riquixás, procissão de casamento com neon em buquês, manequins mecânicos fazendo namastê: Joãosinho 30 não pensaria melhor nem se seu nome fosse com Z… Fedor, barulho, diferença, caos absoluto. Batemos fotos, olhamos, torcemos nariz e nos emocionamos. Exótico e repelente: uma espécie de Medusa social que petrifica nosso olhar.

Chegamos ao gatt, a escadaria que dá acesso ao rio sagrado do Ganges. Olhar para baixo é imperativo e prudente: pudins de hortelã deixados pelas sacrosssantas vacas escondem armadilhas a sapatos finos. Esterco aqui é como Deus: onipresente. Começa o enxame de vendedores. Um cardume, uma chusma que adeja a nossa volta. Sentem o cheiro de dinheiro, de estrangeiro e de mulher. Atacam a bombordo, estibordo e em razzias fulminantes. Querem vencer pelo cansaço. Na maioria das vezes, conseguem.

Seguimos de barco até o crematório onde os indianos acompanham seus parentes à pira final. Só homens. Mulheres em casa: seu choro pode prender a alma ao mundo material. O filho mais velho segue o cortejo com o mantra . ele está com cabeça raspada e com o branco do luto. Branco: a cor sem sangue e sem vida, a cor da dor e da morte no oriente. 250 a 300 quilos de madeira para queimar corpo. Fotos são proibidas. Olhamos de longe 5 piras ardendo. O impacto da cena provoca silêncio no grupo. Voltamos ao cais principal. Há 7 sacerdotes fazem a cerimônia do fogo para colocar a deusa Ganga, o Ganges, para dormir. Somos ateus com os deu ses alheios . No Ganges deixamos um pequeno coco com flores e uma vela sobre manteiga. Peço pelo meu pai ao depositar a oferenda votiva na água do rio. Peço a quem? A Shiva, padroeiro da morte e da cidade? Não sei, apenas penso no meu pai.

Novo trajeto de riquixá. Dou 500 rúpias ao homem do riquixá: um senhor de 1,5 metro e uns 40 quilos. Ele olha fixo e feliz a nota de 500: 10 dólares, quase 17 reais. Ele me levou e busco e pedalou como um hércules-quasímodo por Varanasi, a expressão que Euclides da Cunha usou para o sertanejo brasileiro.

NO di aseguinte vamos de novo de barco nos primeiros momentos da madrugada. Cerimônia de se purificar no Ganges e rezar ao sol nascente. Impressionante de novo. Na saída andamos pelas vielas e becos de Varanasi. Daí os vendedores caem sobre nós como varejeiras na carne crua. Um cachorro tenta mamar numa cadela sem uma perna. Uma mãe exibe a criança faminta. O cheiro, insuportável, paira sobre tudo. Pego o álcool de mão e tenho vontade de mergulhar nele, de ficar nadando na assepsia ocidental. Entramos no ônibus meio estupefatos, meio aterrados. Nascemos em famílias privilegiadas. Será mérito? Acidente?

Depois Sarnath e o local do primeiro sermão do Buda. Linda estupa e jardim. O pilar de Ashoka encanta a todos. Mais um comerciante de sedas e tecidos e resolve-se o dia. À noite aula e jantar muito bom. Estamos felizes e aliviados. Duas chinesas tapam o nariz ao passarem pela Deisy e pela Bia: preconceito é universal e cheiro relativo. Somos fedidos para elas. Elas insuportáveis a nós. Em cada esquina aprendemos sobre nossa subjetividade.

Varanasi...sem palavras e muita emoção.2

Varanasi...sem palavras e muita emoção.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Diário 4

25/02 sexta-feira
De novo ônibus , agora Agra-Delhi. Estradas lentas, lotadas, com caminhões à frente com o bizarro aviso: “please horn”. Buzinas movem veículos mais do que diesel, aparentemente.
Ontem tivemos uma aula e jantar de encerramento de uma parte do grupo, pois nem todos seguirão o curso do Ganges a Varanasi. Foi uma aula muito boa sobre Índia contemporânea e uma síntese da viagem. Depois um lindo jantar degustação que, como sempre, comemos sem saber bem o que era. Talvez seja melhor assim na Índia. O que os olhos não veem o intestino não sente. Secreta esperança que acalenta uma noite auspiciosa.
O dia de ontem foi marcado pelo amanhecer no Taj. Há algo de mágico em dormir num hotel vendo o Taj Mahal ao fundo. Saímos ao amanhecer, sem café, mas a hipótese do Taj mesmerizou a todos. Filas separadas para homens e mulheres. Enfim, o portão de arenito vermelho é o ultimo obstáculo para a visão. Mais alguns metros e a massa branca majestosa aparece diante do grupo. O taj, o marmóreo monumento ao amor, a forma arquitetônica mais conhecida da Índia está ali. É um lugar que vimos milhares de vezes em fotos. É um local que visitamos antes de estar aqui. Surge uma eletricidade similar ao momento no qual vimos as pirâmides de Gizé, a grande Muralha da China ou a Torre Eiffel. Eis algo que nunca vimos, mas sempre conhecemos. Amanhece e o sol dissipa a bruma. O Taj reluz do tom opala ao branco mais nítido. É um imenso barco de mármore navegando na bruma, a “lágrima na face da eternidade” que Tagore definiu. O amor que ergueu o momumento inspira as mulheres do grupo. Muitas perguntam: meu marido faria o mesmo por mim? Duas poderosas molas do feminino se combinam: a sedução de ser amada e o medo de ser menos amada do que outra foi. Amor exigente: O Taj agora é um novo metro de comparação.
O banco de Lady Di atrai rapidamente nosso interesse. Ali, onde a princesa de Gales deixou claro o fim do sonho do seu casamento diante do monumento do amor eterno, ocorreu um pequeno incidente. Judit ficam em frente a um espelho d’água para uma foto bem localizada. Afasta-se para dar passagem a uma parte da horda turística. Por fim, o desastre: ela perde o equilíbrio e cai na água que reflete o Taj. Todos nos assustamos. Felizmente, ela não se machucou. Molhada, amparada pelo grupo, volta ao hotel. O susto passou e já conseguimos brincar com o episódio. Mais tarde, quando alguém a procura e diz onde está a Judith? outra responde “procurando Nemo”, e o grupo explode entre risadas gerais. O banco de Lady Di ganhou” uma outra companhia batizada “o espelho d’água da dra Judit”.
O forte de Agra, sede do poder Mughal, é o maior e mais elaborado de todos que vimos. Mas é guloseima rara depois do jantar: já vimos tantos fortes e tantos palácios que não existe mais tanta atenção. A torre de jasmim , local da prisão do imperador que construiu o Taj, é o ultimo suspiro possível do interesse. Novamente assédio agressivo de vendedores e a Fortaleza, o xnagri-lá do ônibus. A caminho do hotel mais uma… lojinha.
Agora, terminada a etapa de Agra, o grupo perde 6 membros e o resto aguarda as brumas místicas de Varanasi. À nossa frente o final desta viagem. Como eu disse na última aula citando um rabino: o que aprendemos é a única coisa que nunca podem tirar de nós. Estamos mais ricos, e um pouco cansados… A Índia mudou por completo nas nossas mentes.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Nossas pashiminas

Diário 3

Estamos na estrada de Jaipur para Agra. As condições da rodovia duplicada são bem melhores do que a anterior. Acabei de dar uma aula sobre Hinduísmo no ônibus, com auxílio de um texto. Agora estamos vendo um documentário sobre a Índia na oscilante televisão do ônibus.
O Rajastão deixará saudades. Foi o ponto encantado de 3 cidades principescas: Jaipur, Udhaipur e Jodhpur . Terra de marajás e do cruzamento do mundo hindu com o Império Mughal. Fomos a 3 fortes e a 3 palácios, navegamos em lagos e usamos roupas indianas. Fomos de fato apresentados à condimentada cozinha indiana, causando variados efeitos e apreciações. Agora, à nossa frente, a expectativa do Taj Mahal.
Os campos ao nosso redor estão cheios de canola e de arroz. Para o turista que está na Índia, é difícil acreditar que 25 % da população vive abaixo da linha da pobreza, ou seja, passa fome. Um quarto de quase 1,2 bilhões de pessoas é muito, quase dois brasis. Nos hoteis luxuosos somos entupidos de comida. Fomos a um restaurante vegetariano em Jaipur, para um jantar com o primo do nosso guia aqui na Índia. O serviço era tão rápido que os “nãos” eram ignorados pelos atendentes que levavam e enchiam os pratos numa sequência pantagruélica de comida. Uma espécie de bruschetta (ou várias espécies) seguidas de um queijo no molho condimentado, massas, pizzas, legumes grelhados, arroz e outros pratos que comemos sem exatamente saber o que eram. Uns beberam a cerveja Kingfisher (o mesmo nome da companhia aérea que nos trouxe) e alguns ousaram o vinho indiano: frutado, levemente adocicado e sem um corpo ou aroma complexos. Parece uma aurora enológica, com concessões ao açúcar e ao frutado que nós já enfrentamos no Brasil. Indianos bebem pouco e muitos nunca bebem. Sorvete de manga delicoso encerra o ritual, com um petit-gateau. Ao final, a esposa gentil do nosso anfitrião dá roupas de presente para as mulheres e ele nos declara parte da família. A hospitalidade é uma instituição mais sólida no Oriente do que no Ocidente.
As compras fascinam, como de hábito, o grupo. O dinheiro de outro país, especialmente quando se troca um dólar por mais de 45 rúpias, parece um pouco dinheiro de banco imobiliário. Dinheiro de brinquedo é mais fácil gastar: não parece ter origem ou custo. Para nossa referência, a caríssima São Paulo, quase tudo é muito barato. Ontem, num restaurante com talheres e copos de ouro no hotel, com uma refeição regada a várias garrafas de vinho, comendo entradas e pratos variados, tivemos a conta mais alta até agora: algo como 100 dólares por pessoa. Um restaurante de qualidade inferior em Sp, regado a vinhos, a conta passa de 200 dólares com facilidade, ou bem mais.
Tempo livre, dinheiro de banco imobiliário de brinquedo, coisas novas e coloridas: tudo transforma o grupo em vorazes consumidores. Jóias, pashminas, leques de pavão, roupas indianas, sapatos exóticos, temperos raros, pinturas em miniatura, obras de arte e até alguns livros: tudo vai lotando malas, suando carregadores, franzindo cenhos de maridos e satisfazendo desejos.
A viagem é interormpida para o almoço. Um spa com comida sofrível. Faço advertência sobre as lojinhas logo mais à frente. O assédio dos vendedores no passeio de elefante foi além do tolerável para o padrão brasileiro. Eles quase agridem para vender. Sabem que se insistirem à exaustão, conseguirão o que querem. São pobres, evidentemente pobres, e olham para os turistas como notas de rúpias que andam. Os mendigos seguem a mesma estratégia: encostam suas mazelas como o toco de um braço em nós, na esperança ambígua de alternar piedade e horror. Somos exóticos e lucrativos. Eles são apenas exóticos para nós. E chatos… Na labuta de camelôs e no lufa-lufa do comercio miúdo morre todo esforco antropológico. Não queremos mais entender uns aos outros: apenas nos livrar mutuamente, de forma rápida e, de preferência, com algum lucro. Viramos objetos: para um lado indianos insistentes que querem vender coisas de baixo valor agregado; do outro brancos arrogantes e ricos que deveriam dar seu dinheiro para gruos tão sofridos. Não há amor, mas prostituição: por uns cobres ambos acertam um breve intercâmbio sem muito prazer.
Descemos na cidade da vitória, constrída por Akbar e abandonada por falta de água. O grupo, após intensa catequese, caminha intimorato sem comprar nada. Exemplares, por vários minutos, as meninas resistem como Santo Antão no deserto. Inédita a experiência que dura até o ônibus. Já a salvo na cidadela do veículo, os produtos entram seletivamente no ônibus e pulseiras e colares e chapéus são comprados.
A Cidade da Vitória é majestosa, quieta e com um silêncio épico. Aqui Akbar, o terceiro e maior imperador mongol, queria criar seu desejado filho com Joddi. Aqui também se casou com uma hindu, uma turca e uma portuguesa. Visitamos cada um dos palácios das esposas. Tudo estranhamente vazio, ilustrando o clássico “sic transit gloria mundi”. A glória do mundo pode ser passageira, mas, enquanto não passa, pode ser impressionante.
Trecho final até o hotel ao lado do Taj Mahal: vemos agora um filme de Bollywood. Cores almodovarianas, enredo ingênuo e engraçado, músicas sem nenhuma relação com o filme. Enfim, Bollywood. O sol se põe em Uttar Pradesh, o estado mais populoso da Índia. Estamos quase chegando a Agra e ao Taj.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Diário 2

20/02
Saimos de Jodaipur e pegamos a estrada, quase o dia todo de viagem, para Udaipur. Pur é sufixo de cidade na tradição hindu. A rodovia é algo que deve ter similar no interior brasileiro. Muitos buracos e ultrapassagens que chegam a revela o túnel luminoso rumo ao além. As mulheres dão gritos frequentes quando estamos indo de frente para um caminhão. A vida passa rápida diante dos olhos, mas ainda não foi desta vez. No ônibus a beleza cafona de Bollywood com o filme histórico sobre Akbar, o grande. O épico histórico submerge diante da narrativa romântica. Amor é amor e sua linguagem seduz mais do que a expansão do Império Mughal.
Campos vastos e horizontais dos dois lados. Neles imagino tribos mughal (mongóis) a cavalo conquistando o vasto Rajastão. Estamos a poucos quilômetros do deserto de Tar e da fronteira do Paquistão. Imagino como deve ter estado esta fronteira ao longo das 3 guerras entre Índia e Paquistão. O templo Jainista é algo sem similar. Marmóreo, puro e branco: cada coluna distinta da anterior e imagem da busca individual da alma. Jainismo e Budismo, contemporâneos do século VI aC são, igualmente , próximos na ideia de não-violência (ahinsa) e no radical vegetarianismo que decorre dela. Um sacerdote jainista faz oração conosco e o grupo se integra numa meditação bonita.
Chegamos a Jodaipur à noite. Hotel impactante no luxo, espaço: Oberoi Udaivillas. Quartos espaçosos e muitos funcionários. Aliás, a mão de obra barata multiplica os serviços sem multiplicar a eficiência. Como no Brasil, muita boa vontade e pouca ação efetiva. A simpatia é eterna, o resultado esporádico.
O ponto alto do dia seguinte é o jantar. Sáris são distribuídos nos quartos acompanhados de uma mulher “manual de instruções”. Dão-me uma roupa de marajá, com uma calça que veste do tamanho 12 ao 60. O turbante entra apertado. Sapatos são impossíveis no meu tamanho e acabo indo de tênis mesmo. Barco romântico e um inesperado coquetel num escaler ou mini-galeão. Ambiente mágico e uma certa histeria no ar: a festa a fantasia começa a fundir o papel em cada um. Somos indianos, de uma Índia mítica, luxuosa e longe da nossa realidade. Como toda fantasia nos torna felizes em parte pelo papel assumido ali e, em parte, pelo papel que deixamos para trás. Fantasiar-se esconde e revela: o exotismo está na veia do nosso orientalismo bissexto. O jantar ocorre no Palácio do Lago, em torno da ideia atemporal de Índia e seguindo o calendário gregoriano do aniversário da Patrícia. A noite é mágica, para dizer o mínimo. Tocadores e dançarinas completam nosso cenário. A lua cheia encanta pela luz opalina que derrama sobre o lago. De amarelo-âmbar no seu nascer ao prateado intenso, ela acompanha o jantar. Comida indiana: quarto ou cinco quilos de pimenta temperados com pequenas porções de frango, tentando não estragar o gosto da pimenta com o excesso de frango.
No meio da alegria intensa sento-me num chatri (gazebo indiano) e olho o lago. Sem que eu consiga evitar a lembrança do meu pai aflora forte. Ele detestava viajar, mas gostava das minhas cartas descrevendo as viagens. CHoro sozinho. Nunca contarei a ele deste lago, nunca mais. Isto é a morte, ali emoldurada pela beleza da alegria da vida. Nunca mais. A engrenagem da eternidade moveu-se e ele se foi. Choro por ele e por mim. Patrícia senta-se ao meu lado e me consola. Não queria chorar numa festa, mas foi impossível controlar desta vez. A lembrança volta muito sem controle e penso que, s eminha dor é grande, maior deve ser da minha mãe. A gripe aumenta e ajuda a explicar meus olhos vermelhos. Voltamos ao hotel e Patrícia recebe o brinco que o grupo oferece de aniversário e que a Flavia escolheu. A jóia encerra uma noite perfeita.
Pela manhã grupo segue para Jaipur, a capital cor-de-rosa do Rajastão. Eu e Aluana entramos no overbooking e fazemos outro voo. Volto a Jodaipur, o aerorporto lilás que achei que não reveria tão cedo. Supresa: no aeroporto nosso amigo , His Highness, o marajá de Udaipur. Agora embarcar no voo da celebérirma companhia Kingfisher rumo a Jaipur.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Do nosso professor para o mundo...

Último dia em Delhi. Agora partimos para o interior do Rajastão. Ontem foi a mesquita, a maior da Ásia: Jamid Masjid (ou seja, mesquita da sexta-feira). As mulheres são obrigadas a colocar túnicas coloridas e bem fedidas. Nazires chiques ficam torcidos. Sobre roupas elegantes um tecido muito sujo…Várias me perguntam por que os homens não devem vestir aquilo. Difícil explicar a complexidade do machismo religioso universal. Muçulmanos consideram a mulher fonte da tentação. Católicos não ordenam mulheres. A Bíblia tem mandamento sobre não cobiçar a mulher, a vaca, a cabra ou qualquer COISA do próximo. Deus é homem e as religiões são machistas. Após a experiência muçulmana, seguimos de riquixá pelas ruas estreitas da velha Delhi. Acho que agora o grupo viu a Índia de verdade. Fios de eletricidade emaranhados, lojas a céu aberto, açougues retalhando cabras na rua, sáris coloridos, vendedores acocorados no chão das lojas (toda Ásia parece sempre acocorada para mim) , caos colorido, fedido e fascinante. O pequeno homem à frente do meu riquixá (estou com a Daisy) tem piolhos visíveis. Pela primeira vez no dia fico feliz em ser careca.
Almoçamos num restaurante italiano da parte elegante de Nova Delhi. Serviço estranho: o prato de um chegava, 45 minutos depois o de outro, algumas pessoas já estavam na sobremesa e a entrada de outro não tinha chegado ainda. Sincronicidade não parece ser um conceito forte aqui. Comida boa, apesar do serviço. Depois do almoço fomos a um templo Sikhi. Nosso ônibus parou num ponto que não era permitido, eu creio. Um policial discutiu com o motorista em hindi. Depois, quando o grupo já tinha descido do ônibus, o policial bateu com força no motorista com cacetete. O motorista , com mãos juntas em humildade quase religiosa, pedia desculpas. O policial vibrava o cacete com mais força no lombo do motorista. Morreu ali, na nossa frente, o idílio de uma Índia pacífica e mística… Surge um país do Terceiro Mundo, com suas violências e contratastes. O motorista leva, além da surra, uma multa de 5 mil rúpias. O grupo decide fazer rateio da multa. Logo em seguida entramos no recinto dos sikhs.
O sikhismo é uma religião do século XVI. Todos usam barba, turbante elaborado e uma faca cerimonial. O templo é todo de mármore. Apesar de terem sido fundados contra os rituais islâmicos e hindus, tudo nos parece mais formal do que o Brasil. Devemos tirar sapato e meia e pisar no chão frio ( e pouco limpo). Mulheres cobrem a cabeça com panos e homens com um lenço cor de açafrão. Fiquei feliz pela segunda vez com minha calvície: o lenço que me deram já tinha passado por muitas cabeças sem ter conhecido lavanderia.
O templo é lindo, de branco intenso e porta de prata. Dentro um guru canta o livro sagrado do amanhecer ao fim do dia. Famílias sikhs tocam o chão e beijam. A atmosfera é intensamente religiosa. Meus pés gelam na pedra fria. Detesto ficar de pés descalços. Voltamos para o hotel. Trânsito de Delhi no fim do dia de segunda. São Paulo parece organizada de repente, afinal, nosso trânsito não tem vacas na rua. Todos buzinam sem parar. Os ingleses deixaram a herança da mão direita, mas morre aí a influência britânica sobre o tráfego. Chegamos ao luxo do Hotel Imperial. Janto sozinho (parte do grupo foi fazer mais compras) no restaurante do próprio hotel, o 1911. Penso muito na data: a visita do rei George V e a rainha Mary a Nova Delhi. Diante de uma sopa de cogumelos e uma taça de vinho, recrio mentalmente a entrada solene deles e o anúncio da transferência da capital de Calcutá para Delhi, com o início da construção da Nova Delhi. O império devia parecer monumental em 1911. Durou mais 36 anos apenas… A Índia do passado imperial resurge e sigo para o quartos luxuoso já esquecidos das cabeças de cabra retalhadas e da surra do motorista. O Oriente resurge entre especiarias, luxo e a cama com lençol perfumado. Somos de novo ingleses fascinados pelo luxo dos marajás e antropologizando a pobreza… Aqui tiramos fotos de pobres . Em SP corremos deles.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Tres dias em Dubai

Nossa, estamos querendo postar, mas o tempo está curto e o sono é mais forte.
Dubai? Eta lugarzinho que brilha.Passamos esta semana andando de um lado para outro.Foi um dos lugares em que mais senti a diferença cultural.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Dicas cedidas gentilmente pela nossa amiga Rosana

Minha cunhada, Marina, chegou sábado da India e me passou essas dicas...

Vamos anotar junto com as outras MILHARES!!!!

Ela comprou umas jóias (semi jóias? Sei La, tão barato...) lindas!

Bjoooooossss e BOA VIAGEM!!!

RO




Khan market and Connaught Place = BOAS COMPRAS



COMER BEM , perto da Mesquita

Kareem’s
The hugely popular Kareem's near Jama Masjid in Old Delhi, a drab roadside dhaba serves the most authentic Mughlai food in Delhi.




Swagath

14 Defence Colony, New Delhi-110024, Delhi, Phone Numbers 011-24337538, 011-24330930

Best Indian coastal cuisine and seafood in Delhi

Bukhara

ITC Maurya Sheraton, Diplomatic Enclave, Sardar Patel Marg, Chanakyapuri, New Delhi, Delhi 110021, Telephone 011 26112233

Cuisine of the Northwest Frontier Province, now at the border between Pakistan and Afghanistan, is "heavy on meats, marinated and grilled in a tandoor (clay oven).

And Olive near Lotus Temple

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Novo e-mail da Marcia para Ana Lúcia

Ana querida,

Em Delhi visitem o shopping aberto Santushti que tem roupas lindas e de boa qualidade.
Na rua do Imperial ( assumo que vocês vão ficar no imperial) Janpath tem o Tibetan Market com inumeras lojinhas com coisas indianas baratas.
O restaurante Tailandes do Imperial é o melhor da India......delicioso, não percam.....

Em Rishikesh, não deixem de assistir ao ritual do fogo ( Agni Hotra) no Parmarth Niketan todo final de tarde.....

Beijo grande
marcia

Borbulhas no estômago

Borbulhas no estômago! Nossa, viajo sempre e todas as vezes é isso, ansiedade, preocupação, alegria, tristeza enfim " de um tudo."
Minha cabeça está a mil, tantas coisas para fazer antes de ir e só penso em arrastar meu sári na Índia.
Às vezes fico pensando na sorte que tenho, de poder conhecer o mundo, aprender e fazer novas amizades.
E nossa turma? Que delicia! Rolou química, pintou um clima, e como diria minha filha estamos na mesma "vibe".
Estou super otimista, entusiasmada, animada.
E como boa aquariana já estou pensando na volta. Cansada, feliz, estressada, saudosa, leve, mais culta, entusiasmada, e um pouquinho mais gorda, mas quem importa?